quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Não sei ao certo, agora, se devo ou não acreditar na predestinação, mas pelo menos nessa tarde acreditava profundamente; e eu, esquecendo que fizera pouco dos nossos antepassados e da sua complacente astrologia, deslizei involuntariamente no seu trilho; mas retive-me a tempo nessa via perigosa; tendo por regra nada rejeitar de forma decisiva e não acreditar em nada cegamente, deixei de lado a metafísica e comecei a olhar para debaixo dos meus pés."

Lermontov, "Um herói do nosso tempo"

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"Escrevo-te com a plena certeza de que não nos tornaremos a ver. Há alguns anos atrás, quando me separei de ti, pensei a mesma coisa; mas o Céu achou bem tentar-me uma segunda vez: não pude, porém, resistir a mais esta prova, e o meu coração frágil submeteu-se de novo a essa voz tão bem conhecida... Não vais desprezar-me, não é verdade? Esta carta servirá, pois, de adeus e de confissão; sinto-me obrigada a dizer-te tudo o que se acumulou no meu coração desde que te amo. Não te acusarei, procedeste comigo como qualquer outro homem teria procedido. Amaste-me como propriedade tua, como uma fonte de prazeres, de alarmes e de desgostos que se alternavam constantemente e sem os quais a vida teria sido enfastiadora e monótona... Compreendi isso desde o princípio... Mas tu sentias-te infeliz, e sacrifiquei-me, esperando que um dia viesses a apreciar esse sacrifício, que um dia, enfim, viesses a compreender a minha profunda ternura, que não depende de nenhuma condição. Muito tempo decorreu desde então; penetrei todos os segredos da tua alma... e convenci-me de que a minha esperança era vã. Foi amargo para mim! Porém o meu amor, que forma um todo com a minha alma, obscureceu-se, mas não se apagou.
Deixamo-nos para sempre; entretanto, podes estar persuadido de que jamais amarei outro homem: a minha alma esgotou contigo todos os seus tesouros, as suas lágrimas e as suas esperanças. Quem te amou uma vez não pode olhar os outros homens sem desprezo, não porque sejas melhor que os outros, oh!, não!, mas na tua natureza há qualquer coisa de particular, que só te pertence a ti, qualquer coisa de orgulho e de mistério; na tua voz, aquilo que dizes tem uma potência invencível; ninguém sabe querer ser amado com tanta constância; em mais ninguém o mal é tão atraente; ninguém tem um olhar que prometa tanta felicidade; ninguém sabe melhor aproveitar das suas vantagens e ninguém pode ser verdadeiramente tão infeliz como tu, porque ninguém se esforça tanto por se convencer do contrário."

Lermontov, "Um herói do nosso tempo"